Dos experimentos autodidatas aos estudos filosóficos que me permitiram entender e expressar minha particular percepção de mundo nasce a "Poética da Sutura", forjada à partir de reflexões acerca das obras de L. Fontana e M. Merleau Ponty que resultaram num recurso estético que convida a refletir sobre o invisível que habita o visível.
Partindo de um olhar reflexivo às pesquisas de L. Fontana sobre tempo e espaço, e à de Merleau Ponty sobre o visível e o invisível, chego a um conceito que revela a SUTURA como o agente questionador e sustentador do diálogo entre o visível, o invisível e o "fruidor - experimentador", que é desafiado a ver além do que lhe é primariamente apresentado.
Tão nobre que se doa como liga a outros metais nobres, tão belo que até mesmo sua oxidação exalta a beleza do imperfeito, tão generoso que oferece inúmeros benefícios ao corpo e à alma.
Ao utilizar fios de cobre como linha, evoco o poder curativo do cobre contra o olhar engessado, que embaça a percepção, transmutando-o para um olhar múltiplo, capaz de captar o invisível, para além do que se vê.
Objeto pictórico híbrido que funde em seu corpo matérico diferentes linguagens e meios.
Ele flerta com o estranhamento, mas se harmoniza com a beleza do imperfeito (wabi-sabi), namora com o caos, mas está visceralmente comprometido com a gestualidade,
É o fruto dourado que desvela uma redução fenomenológica severa e promove uma antropofagia conceitual voraz.
Não há semelhanças entre a "Caixa de Pandora" (que põe a mulher como responsável pela origem das tragédias humanas) e a "Caixa de Belladonna", esta, pensada para provocar reflexões, trazer inspirações, um sorriso ou um alento, um respiro doce e colorido em tempos tão duros...
Em seu âmago, frases, palavras, citações, poesias, pinturas, collage e muitos, muitos desejos de uma vida mais colorida...
Lúcio Fontana traz a tela cortada, furada, golpeada como uma pele ferida que evoca a ruptura, a desconstrução, a entropia, e usa o gesto para falar de espaço e capturar o tempo.
Eu, trago a tela suturada como uma pele curada, que evoca a conexão, a reconstrução, a sintropia, usando o gesto para falar não só de espaço e do tempo capturado, mas sobretudo do invisível enxertado no visível , criando um elo entre os estudos de Fontana e Merleau Ponty, ao mesmo tempo em que sintetizo uma poética particular.
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