Quem somos?

LaSP - Laboratório em Saúde e Pensamento:

Somos um esforço de fomentar translocuções entre saberes e sabores que fazem da vida um acontecimento inesperado, isto é, naquilo em que ela se engaja em saúde e em pensamento.

Uma atenção ao nosso presente momento, nisto que ele tem de atual e o que o faz já não ser o que é.

Um corte entre diferentes dimensões e conhecimentos que são produzidos na experiência: política, ética, poesia, estética, psicologia, antropologia e os inúmeros nomes que surgem todos os dias.

Atualizamos essa nebulosa em distintos territórios: textos publicados em jornal, formação de grupos de estudo e, neste momento, aqui no @instagram.

Uma bela leitura a todos nós! 👉

“Qual o sentido da vida?”, “Por que faço o que faço?”, essas e muitas outras perguntas podem, em algum momento da existência, ocupar nossos pensamentos acerca daquilo que “oferece sentido” ao que fazemos e vivemos. Contudo, convido o leitor a se desapegar dessas perguntas ordinárias e habituais em função de uma outra maneira de colocar o problema do sentido: ao invés de buscar “qual” o sentido, perguntemo-nos “como” ele se configura, isto é, de que maneira o produzimos. Esta simples mudança na colocação do problema já expressa uma posição ética e, ao mesmo tempo, estética de meu convite: trata-se de afirmar o sentido enquanto potência de direção, uma configuração subjetiva e material que se cria e se modifica constantemente a partir das relações que compomos com o meio ao qual somos indissociáveis. Um potência que se vê imbricada num plano coletivo de forças e que é transformada por inúmeros vetores heterogêneos, isto é, por políticas do sentido. Vejamos o que isso significa. 

Observamos momentos na história ocidental em que o problema do “sentido” recebeu diferentes maneiras de ser colocado e vivido (por exemplo o valor religioso metafísico na Idade Média). Contudo, quando concentramos nossa atenção na contemporaneidade, é evidente uma nova nuance em relação ao tempo passado: hoje, o “sentido” se torna cada vez mais mercadoria a ser consumida. Marcada pela lógica lucrativa e necessidade de consumo, nossa atualidade não se constitui pela busca de um “sentido divino”, como fora no domínio religioso; hoje, o “sentido” torna-se mais um item a ser adicionado ao nosso “carrinho de compras”. O capitalismo, frente sua invejável capacidade de reinvenção, percebeu na subjetividade um novo tipo de mercadoria que pode garantir a manutenção de sua existência enquanto sistema econômico, político e estético. Se não estamos mais a procura de uma verdade imutável, anunciada pelos profetas bíblicos, estamos, ao contrário, diante de um novo paradigma do sentido: a fabricação - o sentido como produto de um processo maquínico. 

Sendo assim, dentro da imensa possibilidade de sentidos fabricados pelas máquinas midiáticas, financeiras e institucionais, observamos um niilismo típico da modernidade: da “grande promessa”, onde o território subjetivo se vê bombardeado de sentidos, de inúmeras possibilidades de existir, de diversas promessas do que pode vir a ser, a desejar, a perceber, a agir, a lembrar, a pensar, enfim, a existir, ele também, ao mesmo tempo, se vê num “grande perigo” frente ao esvaziamento de sentido a partir do excesso das possibilidades de existir. Tal jogo, entre promessa e perigo, se dá pela produção de “sentidos prontos”, isto é, transcendentes; ou seja, a partir da compreensão da subjetividade e do sentido enquanto mercadoria, todo funcionamento maquínico de nosso sistema atual visa a produção de sentidos que, apesar de não fazerem referência a nenhuma realidade divina, são exteriores e, portanto, transcendentes à experiência do próprio território subjetivo em questão. São “sentidos”, modos de perceber a si e ao mundo que são fabricados, modelados, introjetados e consumidos por nós, materializando-se em gestos, palavras, identidades e etc. Nisto reside a captura: o consumo desenfreado de sentidos transcendentes, ou seja, de uma maneira de existir já enlatada e etiquetada, que diminui a potência que o vivo tem de criar sentidos e modos de existir próprios, singulares e, sobretudo, imanentes à sua experiência.

Tal captura atua como via de gerência das vidas ao ar livre e não apenas pelo confinamento nas instituições, como era no século passado nas prisões e hospitais psiquiátricos. É na medida que torna a existência mais um produto nas linhas de produção de sua fábrica que a modernidade, atualmente, direciona e prevẽ os modelos de sentido que devemos consumir para não comprometer o funcionamento e a manutenção de sua engrenagem (poderíamos citar como exemplo os processos de medicalização - que emergem como estratégia de realocar as “alterações comportamentais” aos trilhos da formatação -, todavia é um tema que merece mais tempo e dedicação e que, talvez, possa ser alvo de um próximo texto). 

Ao contrário, quando hesitamos frente ao constante consumo atual, abrimos brecha para isto que estou chamando de resistência. Antes de uma mobilização partidária social, trata-se de uma atitude singular que cada um nós pode experimentar: resistir à captura é produzir tensionamentos éticos, isto é, questionar as nebulosas que nos compõe - os hábitos, os vetores de força, os modelos que reproduzimos e consumimos, as tiranias que nos afastam da potência que dispomos de inventar para nós uma maneira de viver própria. Se a captura sintoniza com a transcendência, a resistência reside na imanência, nisso que tem gênese na experiência de cada um, na maneira como afetamos e somos afetados cotidianamente. A saúde, antes de ser um terminal ideal a ser alcançado, versa sobre uma prática diária de cuidado de si, um trabalho constante que guia a ética de nossa existência. De que maneira podemos produzir e não apenas consumir sentidos? Arrisco dizer que a resposta está no próprio ato de desejar, de sentir, enfim, de criar e inventar, orientado por essas tensões éticas, maneiras próprias, imprevisíveis e irreverentes de afetar e ser afetado. 

Israel Tebet
Colunista no LaSP, graduando e pesquisador em Psicologia/UFF - Grupo "Individuação, subjetividade e criação" nos diretórios do CNPq.

Ocasionalmente nos deparamos com situações desastrosas nas quais temos que reorganizar nossa rotina e, quiçá, nossa vida. O término de uma relação (amorosa ou não), a notícia da maternidade/paternidade e a morte de um ente querido podem ser exemplos de tais situações. São experiências com intensidades, durações e contextos distintos, mas todas (no que interessa ao presente texto) carregam uma marca comum: a suspensão, ainda que temporária, da lógica prática, acomodada e repleta de certezas que domina nosso cotidiano.

Isto porque a face adaptativa de nossa natureza se encarrega de nos proporcionar um modo utilitário de existir no mundo, onde nossas percepções, lembranças, raciocínios e ritmos da atenção se reúnem num acordo harmônico e oferecem um sentido, uma imagem do mundo e de nós mesmos de fácil reconhecimento, fundada numa cronologia entre origem e finalidade, marcada pela determinação: eu sou “fulano”, tenho “tantos anos”, minha meta é “tal”, sempre fui e serei uma pessoa “assim e assado” e etc; dessa forma, nos alimentamos de um modelo subjetivo que se expressa a partir de marcas de reconhecimento - aquilo que procura, apesar de toda a singularidade e constante diferenciação que nos habita, nos afirmar como os mesmos, com os mesmos apetites, desejos, inclinações, com personalidade bem definida e, frequentemente, justificada numa pretensa história familiar.

Ainda que a face adaptativa seja importante para um determinado nível de discussão (ex: oferecer um senso de identidade para agir no mundo), o que venho aqui denunciar é o alto grau de dependência que criamos com essa maneira de existir, de modo a torná-la um modelo dominante e automatizado. Até assumimos que as situações desastrosas que citei acima têm o poder de suspender, por instantes, este circuito adaptativo. Todavia, geralmente elas não passam de um evento desastroso, isto é, um obstáculo disruptivo a ser apaziguado com vistas à nossa reacomodação ao domínio do reconhecimento. A inquietação que proponho é esta: o que pode acontecer caso hesitássemos em rebater o desastre com ações e saberes codificados por nossa maneira de ser já conhecida? qual é a indicação do desastre? como operar a passagem do desastre à isto que chamarei de catástrofe? enfim, qual o afinamento da catástrofe com a saúde e o pensamento?

Ora, se o desastre opera uma suspensão da lógica utilitária dominante, ele já indica que, apesar da nossa estrutura subjetiva operar, por uma necessidade prática e social, gestos identitários, somos tecidos por dimensão marcada pelo inacabamento de nós mesmos e que, portanto, nossos saberes serão sempre parciais e insuficientes frente ao caráter acidental e imprevisível da vida. Hesitar e desautomatizar esta lógica indica um retorno à experiência: alternamos entre adaptações e desadaptações, uma coexistência da produção de saberes com a sua própria crise que implica uma passagem para a invenção de novos modos de existência. O desastre tem a potência de um alargamento, ele informa nossa natureza indeterminada e a incessante necessidade de nos reinventarmos a cada desastre. Em suma, o desastre, quando cuidado e não rebatido, exprime um convite catastrófico: na medida em que sua aparição acidental é acolhida e investida num acompanhamento afetivo e sensível às novas estruturações de nossa existência, o desastre se torna catástrofe - desestruturação de si que evoca novas maneiras de experimentar e inventar nosso território subjetivo.

Se a experiência nos indica que somos seres inacabados, a saúde sintoniza com uma atenção cuidadosa a esses convites catastróficos que nos constituem e nos tecem diariamente. Isto que chamamos de momento presente não seria justamente um campo povoado de desastres, verdadeiros convites às catástrofes? Uma profunda frustração pessoal ou profissional, uma perda dilacerante, apesar da baixa potência de vida que experimentamos, caso acolhida e cuidada não poderia sinalizar a emergência de novos mundos e novas estruturações de si? Essa alternância entre estruturações e os momentos em que nossa atual estrutura se exprime obsoleta e inadequada não corresponde ao concreto e real plano de nossa existência? Uma ética da existência que toma o pensamento como força de hesitação ao fechamento utilitário e identitário, capaz de conceber o alargamento das possibilidades de existir e a saúde como uma atenção cuidadosa e sensível aos acontecimentos que nos constituem, é o que proponho como inquietação epistemológica e consideração diária.

Israel Tebet
Colunista no LaSP, graduando e pesquisador em Psicologia/UFF - Grupo "Individuação, subjetividade e criação" nos diretórios do CNPq.

Mais 3 dias eu infarto

"Pandemia, e agora?"

Não podemos nos abraçar
Não podemos nos beijar.

Um aperto de mão nos dias de hoje, amigos do futuro
Um ato mais simples de cordialidade pode nos custar a vida.

Nunca pensei em dias como os de hoje em dia…

Aqueles de cabelos brancos são o risco do grupo.
Aqueles que possuem olhos marejados pela vida
Pele cansada
Trabalharam tanto na lida
São os que mais sofrem com esse tumulto.

Meus pais dizem que sou muito novo para entender
Mas falaram de um vírus que veio da China que ninguém consegue vê.
E por que? Não sei!
Mistérios do outro lado do Pacífico.

Ainda não chegamos na fase de ter biologia na escola
Só um pouco de ciências mesmo.
E na ciência que a professora apresentou ainda não tem esse tal de vírus
E pelo visto nem na ciência dos adultos.

Meu irmão falou que os cientistas não conhecem esse micróbio
E nem injeção tem pra previnir ação do vírus que está fazendo esse furdunço no mundo.

Espero que aí no futuro vocês já tenham descoberto o antídoto.
To com saudade da escola já
Aqui na rua as mães não tão deixando a gente nem sair na rua pra jogar bola
Acho que se tiver que ficar trancado mais uns três dias eu infarto!

Matheus Fernando
matheusfernando.contato@gmail.com

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