devaneios e delírios
@utopiacolorida
em meio a tantas cores falhas, o arco íris se fez presente em mim em forma de poesia.
dos 120, apenas 30.
os 30 minutos que fizeram a minh’alma transparecer de luz, sem sequer uma pausa repentina para fazer a minha respiração voltar ao normal. embora pouco frustrada, eu avistava, aos poucos, um daqueles planetas que imaginava conhecer quando sonhava alto encostada à janela do quartinho frio em meio ao verão que parecia nunca acabar. eu tentava manter a linha intrínseca do meu coração no mesmo lugar de sempre. não pretendia de maneira alguma me aproximar demais ao ponto de permanecer aos prantos no fim da madrugada outra vez. mas por mais semelhante que fosse ao meu vínculo anterior, algo de diferente havia ali. foi uma das fantasias mais belas que eu poderia ter a honra de atuar. quando eu pensava naquele teatro cheio de clichês, com sons e cores vibrantes que eu tinha o desejo de criar com a ajuda de alguém. e após tantos roteiros que eu havia pensando em escrever, no fim, nem precisei. e sim, fiquei um tanto surpresa. tudo já estava ali, com todo aquele cenário que, de primeira mão, eu estranhei, pois não chegaria nem aos pés das seções que eu imaginava. mas não me arrependo, não.. sempre pensei que as cenas mais lindas são aquelas de modo espontâneo, sem indicações ou avisos. e aquilo, bom.. aquilo foi totalmente inesperado.
você me fitou nos primeiros 10 minutos, sem nenhum esforço. eu poderia dizer que não seria minutos, pois os segundos se enquadram bem melhor no tempo em que eu pensei ter cronometrado. mas, como pretendo abandonar um pouco o exagero, não irei longe demais com as palavras. chegando aos 20, aquele leve sorriso. e pra falar a verdade, talvez você nem saiba, mas ele foi o motivo mais lindo de um dos maiores caos que a minha cabeça já havia se tornado palco. e eu não fazia ideia de que toda aquela bagunça anterior que eu havia arrumado a umas três semanas atrás, iria virar de ponta cabeça outra vez. aos 29, a linha se rompeu. e eu me perdi em meio aos soluços de um pequeno desespero seguido de uma crise de ansiedade que me fez ficar agitada. mas não foi exatamente uma crise ruim. nessa, teve algo de luz. em meio a todo o medo que queria corromper o momento. mas eu não permiti. bom... não ainda.
quando o 29 arredondou de vez para os 30, que eu nem percebia que estava contando nos dedos, meu pensamento recuou. eu não te avistei mais ali. e, embora metade do meu corpo quisesse que tu desaparecesse antes que as minhas vidraças cheias de sangue acumulados após a minha última guerra explodisse de vez, a outra metade queria sentir o calor de apenas imaginar, aos poucos, a tua presença ante a mim outra vez. permaneci até os 40, e não mais me aquietei. eu corri. corri feito uma flecha fumegante atirada por guerreiros em meio a jogos medievais que frisam sempre por não errar o alvo. e eu não errei. meus pés latejavam forte quando eu notei a tua sombra de longe. e o meu cansaço havia tomado conta do meu corpo tão rapidamente, que a batida dos 99 minutos já estava próxima. a minha linha de raciocínio não estava mais como antes. a minha respiração enfraquecia aos poucos. e as minhas mãos, tremiam. embora o calor da timidez estivesse incendiado os meus órgãos internos me fazendo sentir uma sensação que eu jamais pensei que iria alcançar. cessei a minha fragilidade, me levantei outra vez. mas de nada havia adiantado. os 118 estavam exatamente ali, apitando alto na minha cabeça feito sinos que se movimentavam de uma lado para o outro me fazendo entrar em ataque de pânico. e eu não consegui sequer preparar as minhas forças pra me direcionar a ti. pensei tanto, que falhei. os 120 já havia chegado. parei por um momento. e respirei fundo ao analisar as duas horas que havia passado ali. reanimei o meu coração. embora a culpa estivesse tomando conta do meu ser após notar a falha por ter deixado a insegurança invadir o meu espaço, outra vez.
eu não havia notado, mas os 30 minutos iniciais foram o ápice que me fez ser cativada. e não seriam os outros 30 que me fariam voltar ao pó após todo o esforço que quase me levou ao espaço sem estrelas. dos 120, apenas 30. só isso foi o suficiente para me fazer brilhar outra vez. e por mais simples que possa parecer, foi a luz mais radiante que poderia ter se manifestado dentro de mim em meio a todo aquele caos. mesmo que a dor ainda exista aqui. e sabe, talvez possa ser os últimos segundos nas próximas 24 horas a mais que me farão brilhar outra vez. quer seja por tua causa, ou não. e é exatamente nesse pequeno detalhe, que eu não irei me preocupar outra vez.
não é tudo sobre você
é sobre mim também.
não é tudo sobre nós
é sobre o meu eu, único.
o teu abraço
foi um dos melhores
que eu poderia desejar
todos os dias
mas eu não podia esquecer
da minha própria companhia
também.
ela sempre
esteve aqui
comigo.
diferente
de você
que
se foi.
lamento se essa não era a alice que você esperava observar após todo o caos.
carrego nas costas uma vontade absurda de te ver na melhor das situações mesmo que eu não esteja presente nessa realidade. mas isso não faz sentido, não é? afinal, como que eu conseguiria fazer o bem se eu mesma não permaneço assim? acontece que o amor próprio está se esgotando aos poucos e eu não vejo outra saída a não ser tentar me alegrar com a tua alegria.
eu sei. isso é sufocante demais. ter que observar você caminhando sobre os cristais que eu mesma lapidei por muito tempo em prol da tua melhora. é devastador saber que não estarei segurando a tua mão direita para guiar-te até o fim do arco íris. é clichê, eu sei. mas acredite, essa luz emana apenas por fora do corpo. aqui dentro, uma escuridão profunda assola o peito e o faz latejar dia e noite.
eu sinto o sangue estacar mas a dor sequer me incomoda mais. maldição. olhe só o que me aconteceu. olhe só onde que eu vim parar. não era isso que você esperava, não é? eu sei. eu não costumo me colocar tão pra baixo assim em palavras que normalmente me serviriam de conforto. mas, fala sério, quem eu estou tentando enganar? é aqui onde eu estou. e de nada adiantaria eu pintar o negro que transparece através do medo que habita aqui. não dessa vez.
por ora, eu hei de captar cada centímetro do espaço, cada tensão da minha pele, cada força das minha lágrimas, cada tremor do chão sob os meus pés gelados e cada latejo que a ansiedade há de proporcionar nas minhas feridas abertas. talvez um dia, esses elementos gravados na mente contribuam para que eu renasça das cinzas. mas hoje não. hoje eu desconheço o poder da fênix e não mais sei o significado de força nem de todos os sinônimos que provém dela.
hoje eu não irei renascer e peço desculpas caso tu estejas desapontadx com isso. a linha tênue do limite chega para todos, acredito. e por mais drástico que possa parecer, essa é a minha linha. peço que tenha cuidado para não pisar na área pontilhada para que não possas cair nessa assustadora toca do coelho que tanto os meus sonhos romantizaram. mas caso isso aconteça, quem sabe a gente ajude um ao outro, algum dia. mas hoje não. não dessa vez.
[-]
ela arrancou um pedaço do meu peito
mas não se preocupou em levar o meu coração.
sabias bem
que uma ferida aberta
com o sangue frio
movido pelas batidas repentinas
de um órgão recém aberto
doía muito mais
que a agonia pela bagunça que ela ousou
deixar aqui.
[a ansiedade explosiva e sua espada de dois gumes]