A importância de
Conversas naturais sobre morte e vida
A morte é a única certeza da vida! É uma questão universal que delimita a existência, vista como ruptura, aniquilação, passagem ou descanso, o que facilita ou não a aceitação da finitude.
O ser humano é o único que tem o privilégio de compreender a futura e inevitável morte em contraste com as demais espécies. Então, a consciência da limitação no tempo, a preocupação com a terminalidade e o medo da morte estão no centro da nossa condição existencial.
Pensar e falar sobre a morte, porém, não é algo tão simples como deveria! Representa um desafio que confirma a fragilidade humana e o mal-estar diante do fim, da perda e do fracasso. Em contrapartida, conversas naturais a respeito da morte favorecem reflexões sobre o sentido da existência, restabelecendo valores e prioridades que determinam atitudes e comportamentos alinhados às concepções de qualidade de vida e de morte.
Por que é tão difícil falar de morte?
As nossas ideias de morte têm origem na cultura, valores e crenças, conforme a história e o lugar do mundo. No ocidente, desde o século passado, a morte é um inimigo a ser vencido, o que reflete na busca desenfreada pelo prolongamento da vida e da juventude. Desconforto, evitação e fuga são as nossas reações mais comuns, assim como o medo, que justifica defesas psicológicas como a negação, intelectualização e isolamento.
A nossa dificuldade em ter conversas naturais sobre a morte também se relaciona às experiências de luto pela perda de entes queridos. Nestes casos, os sentimentos comumente despertados são tristeza, desesperança e raiva, o que é modulado pelas nossas experiências, circunstâncias da perda, religião e rede de apoio.
Em contrapartida, quanto mais negamos a morte, mais ela se impõe no nosso cotidiano. Ela nos assombra como resultado final das doenças, acidentes e envelhecimento, mas também da vulnerabilidade social, incompetência da saúde pública e banalização da violência, a exemplo das vidas perdidas tragicamente na pandemia, guerras, assassinatos e suicídios.
Qual é o campo do conhecimento que estuda a morte?
A tanatologia é um campo científico recente que contempla os estudos da morte com abordagem prática multidisciplinar. Abrange conhecimentos, discussões e reflexões sobre a morte e o morrer, promovendo qualificação técnica e humana para lidar com a terminalidade, além de ampliar a consciência da própria finitude.
É uma ciência que auxilia e se conecta com outros campos do conhecimento, principalmente nas ciências humanas, sociais e da saúde, proporcionando aporte teórico, técnico e instrumental para aplicar em situações que envolvam a morte e o morrer.
Os estudos tanatológicos, mesmo de aplicação multidisciplinar, são mais comumente aprofundados como conhecimento teórico-prático na área da saúde e educação, complementados por trabalhos realizados nas suas interfaces com o direito, o serviço social e a comunicação. Eles integram uma tendência mundial de Educação para a Morte que, mais especificamente na psicologia, se apresenta como uma área de interesse denominada Psicologia da Morte, nem sempre obrigatória nos currículos de graduação, mas indiscutível na sua importância.
Ciomara Benincá
(Re)Significando finitude, terminalidade e morte
Amo ser mãe, a psicologia e ensinar. Desde o início da carreira como professora de uma das instituições mais renomadas do sul do país, trabalho para formar profissionais da saúde com excelência técnica e humana na vida e na morte. Assim, com mestrado e doutorado em psicologia, tenho mais de 30 anos de prática em docência, supervisão, extensão e pesquisa clínica.
Em 2021, em meio à Pandemia e incentivada pela minha família, tomei a difícil decisão de encerrar meu ciclo universitário e me arriscar numa nova jornada no digital, repleta de desafios, descobertas e oportunidades.
Vários fatores contribuíram nessa revisão do que eu entendo como missão e propósito: em termos pessoais, o desejo de autonomia geográfica, de tempo e de investimento de energia; em termos profissionais, o desejo de ampliar o alcance da minha mensagem e multiplicar o número de profissionais transformados pela minha proposta de ressignificar a finitude e a terminalidade na sua vida e ofício.
Qual é o meu propósito no estudo da morte?
Acredito que as conversas sobre a morte são naturais e necessárias! É no reconhecimento de que somos mortais que aprendemos a respeitar a vida e ressignificar a finitude, alinhando as nossas prioridades e valores à qualidade do viver e do morrer. Esse é o meu propósito!
Minha missão, estudar e ensinar a morte e o morrer na perspectiva da psicologia para estudantes e profissionais da área da saúde e afins, com o objetivo de qualificar o seu exercício profissional e humano.
Nos meus cursos, aulas, consultorias e palestras, reúno subsídios teórico-práticos e produção científica com técnicas e vivências que informam e fomentam discussões sobre o fim da vida. Para isso, utilizo teorias, pesquisas, técnicas, estudos de caso reais e do cinema e acontecimentos atuais para embasar discussões contemporâneas que favoreçam a compreensão e estimulem a reflexão sobre a morte, impactando positivamente nas relações com os pacientes, alunos, colegas, ofício e com a própria finitude.
Minha trajetória
Mestre e Doutora em Psicologia CRP 07 04177
As décadas de prática, docência, pesquisa e extensão em Educação para a Morte e Intervenções Clínicas e da Saúde, me apresentaram a dura realidade de morrer no desamparo, doença, ignorância e preconceito. Minha trajetória profissional é diversa, incluindo implantação de estágio em hospital, tutoria de residentes em psicologia, supervisão clínica de estagiários e coordenação de ações multidisciplinares em saúde coletiva, prevenção da violência e suicídio.
No doutorado, defendi tese sobre o apoio psicológico à morte na UTI, publicada internacionalmente pela Oxford University no “Evidence-Based Practice Manual” (Roberts; Yeager, 2004) com o título “Death on Daily Basis”.
Na graduação e pós, ensinei Psicologia da Morte, da Saúde, das Emergências e Desastres e do Envelhecimento Humano, além de Vivências de UTI e Finitude e Terminalidade, entre outros temas. Sobre desenvolvimento, saúde e morte, publiquei artigos e capítulo de livros, apresentei trabalhos e dei palestras. Na mídia, estão disponíveis matérias, entrevistas e programas dos quais participei com o objetivo naturalizar as conversas e estimular a reflexão sobre a morte e o morrer.